terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Capítulo 03 - Levantamento de quantidades

O início da orçamentação de uma obra requer o conhecimento dos diversos serviços que à compõe. Não basta saber quaís os serviços, é preciso saber também quanto de cada um deve ser feito.

A etapa de levantamento de quantidades (ou quantitativos) é uma das que intelectualmente mais  exigem do orçamentista, porque demanda leitura de projeto, cálculos de áreas e volumes, consulta a tabelas de engenharia, tabulação de números, etc.

A quantificação dos diversos materiais (ou levantamento de quantidades) de um determinado serviço deve ser feita com base em desenhos fornecidos pelo projetista, considerando-se as dimensões especificadas e suas características técnicas. Por exemplo, ao se medir a área de piso de um apartamento, deve-se separá-Ia por tipo de revestimento.

O processo de levantamento das quantidades de cada material deve sempre deixar uma memória de cálculo fácil de ser manipulada, a fim de que as contas possam ser conferidas por outra pessoa e que uma mudança de características ou dimensões do projeto não acarrete um segundo levantamento completo. Em vista disso, são normalmente usados formulários padronizados por cada empresa.

Dimensões

O levantamento de quantidades pode envolver elementos de naturezas diversas:

Eventualmente, o construtor pode fabricar seu próprio material. Um exemplo é uma obra de estrada em que o agregado provém da britagem e peneiramento de blocos rochosos escavados a fogo. Nesse caso, o preço do material (seja em metro cúbico ou em tonelada) é o preço do desmonte da rocha mais seu beneficiamento.

A seguir, apresentamos em detalhe o processo de levantamento de quantidades dos principais serviços que aparecem nas obras.

Demolição

O volume da estrutura a ser demolida "cresce" quando passa da construção ao entulho. Isso porque o arranjo da massa se desfaz e aumenta de volume. Esse "inchamento", bem semelhante a um empolamento, varia de material para material, e de acordo com o método de demolição. Para demolição de alvenaria de blocos, comum em obras e reformas, recomenda-se multiplicar o volume por 2. Em outras palavras, 1 m3 de alvenaria gera cerca de 2 m3 de entulho quando demolida.

Fôrma

Para a determinação do quantitativo de fôrmas, é importante que haja um projeto executivo, com o detalhamento das diversas peças.

Para fôrmas de madeira, normalmente encontram-se os seguintes componentes: chapa compensada (resinada, plastificada), sarrafo, prego, desmoldante. Só com um projeto de fôrmas é que o orçamentista pode estimar com segurança o quantitativo de todos esses elementos.


O exemplo a seguir ajuda a entender o levantamento das quantidades. Exemplo. Levantar os quantitativos de todos os materiais necessários ao serviço de fabricação, montagem e escoramento da  fôrma da estrutura abaixo:


 
Chapa compensada (dimensões 2,20 m x 1,10 m):

Quantidade de chapas na direção horizontal = 7,70 m / 2,20 m = 3,5 -> 4 un
Quantidade de chapas na direção vertical = 2,90 m / 1,10 m = 2,6 -> 3 un
Total = 3 x 4 x 2 lados = 24 un - 24 un x 2,20 m x 1,10 m = 58,1 m2


Sarrafo:

Vertical = 7,70 m / 0,45 m = 17,1 -> 18 un x 2,90 m x 2 lados = 104,4 m
Horizontal = 2,90 m / 0,60 m = 4,8 -> 5 un x 2 x 7,70 m x 2 lados = 154 m
Escora = 7,70 m / 1,35 m = 5,7
Piquete = 6 un x 1,0 m = 6 m
Total = 282,4 m


Tensor metálico:

A cada 2 cruzamentos na horizontal = 5 x 9 = 45 un

Prego:

Usar taxa de 0,25 kg/m2 _ 7,70 m x 2,90 m x 2 lados x 0,25 kg/m2 = 11,2 kg



Armação

O serviço de armação é estimado com base no peso (seria mais correto dizer massa) de aço requerido de acordo com o projeto estrutural, que em geral traz um quadro de ferragem ou lista de ferros de cada peça ou conjunto de peças, contendo os respectivos comprimentos, bitola e quantidade.

Agrupados por bitola, o comprimento pode ser convertido em peso por meio da seguinte correspondência:


Traços de argamassa e concreto

Alvenaria

O levantamento de quantidades de alvenaria destina-se a obter a área de parede a ser edificada, por tipo, assim como desmembrar essa área em termos dos insumos que entram na execução do serviço. Em outras palavras, primeiro determina-se a área de parede e, a partir dela, a quantidade de blocos e de argamassa de levante da alvenaria.

A área de alvenaria servirá de base para o levantamento de quantidades de outros serviços, tais como chapisco, emboço, reboco, pintura e azulejo.

Área de Alvenaria

O levantamento da área de alvenaria a ser levantada na obra parte da interpretação da planta baixa da edificação, associada às elevações mostradas nos cortes transversais. Pode-se calcular a área de alvenaria pela simples multiplicação comprimento x altura, ou perímetro x pé-direito.

A tabulação individual das paredes permite a checagem das contas e consultas posteriores, além de servir como registro (memória de cálculo).

Quando num pano de parede existirem aberturas - portas, janelas, basculantes, elementos vazados, etc. -, há algumas regras práticas para o levantamento da área de alvenaria:

• Área da abertura inferior a 2 m2 - despreza-se o vão da abertura, isto é, não se faz desconto algum na parede;

• Área da abertura igualou superior a 2 m2 - desconta-se da área total o que exceder a 2 m2.

Essa regra parte do pressuposto que a execução da alvenaria nas bordas da abertura demanda tempo com ajustes, arestamento, escoramento dos blocos, colocação de verga e contraverga, e que esse tempo seria equivalente ao que o pedreiro levaria para preencher o vão se a parede fosse inteira. A regra não é perfeita porque faz uma compensação de homem-hora por material, mas ainda assim é uma prática muito difundida entre os orçamentistas.

Exemplo. Calcular a área de alvenaria de:

(i) parede de 6,0 m x 2,8 m com janela de 1,5 m x 1,0 m;
(ii) parede de 6,0 m x 2,8 m com janela de 1,5 m x 2,0 m;
(iii) parede de 6,0 m x 2,8 m com 1 janela de 1,5 m x 1,0 mel janela de 1,5 m x 2,0 m.

i) Área = 6,0 m x 2,8 m - ° = 16,8 m2.
ii) Área = (6,0 m x 2,8 m) - (1,5 m x 2,0 m - 2 m2) = 16,8 m2 -1,0 m2 = 15,8 m2.
.iii) Área = (6,0 m x 2,8 m) - °- (1,5 m x 2,0 m - 2 m2) = 15,8 m2.


Quantidade de blocos e argamassa de levante

A quantidade de blocos e argamassa por metro quadrado de alvenaria depende da dimensão do bloco e da espessura das juntas horizontais e verticais.

Chamando de bj e b2 o comprimento e altura (em metro) do bloco no plano da parede, e de eh e e, a espessura (em metro) das juntas horizontais e verticais, respectivamente, a quantidade de blocos por m2 será obtida pela divisão de 1 mOpela área do bloco equivalente, que é o bloco acrescido da juntas.

Para o cômputo do volume de argamassa por metro quadrado de alvenaria, a maneira mais
prática é subtrair de 1 m2 a área frontal dos blocos existentes nessa área e multiplicar o resultado
pela espessura da parede (b):


A tabela abaixo mostra a quantidade teórica (nominal) de blocos e o volume de argamassa por metro quadrado de alvenaria para várias combinações de dimensão de blocos e espessura de junta.

Fica a cargo do leitor deduzir a fórmula do volume de argamassa quando a junta vertical é seca.


Exemplo. Calcular a quantidade de cada insumo necessário para a construção de 1 m2 de parede de alvenaria de blocos cerâmicos de 9 cm (largura) x 14 cm x 19 cm, com juntas horizontais e verticais de 1,5 cm de largura. A elevação da parede consome 0,90 h de pedreiro por m2 e igual incidência de servente.

Adotam-se os seguintes consumos para fabricação de 1 m3 de argamassa:
190 kg de cimento
0,632 m3 de arenoso
0,948 m3 de areia média
10 h de servente

Exemplo. No exemplo anterior, se houver no estoque da obra 12 sacos de cimento, 3 m3 de arenoso, 5 m3 de areia e 10.000 blocos, qual a área de alvenaria que pode ser feita sem compra adicional de material?

O cimento é suficiente para (12 sacos x 50 kg/saco) 12,79 kg/m2 = 215 m2
O arenoso é suficiente para 3 m3/ 0,0093 m3/m2 = 322 m2
A areia é suficiente para 5 m3 / 0,0139 m3/m2 = 359 m2
Os blocos são suficientes para 10.000 un 131,47 un/m2 = 317 m2

O insumo de terminante é, portanto, o cimento. Com os insumos em estoque, só se consegue construir 215 m2 de alvenaria.

Pintura

A quantidade de tinta (e também lixamento, selador e massa corrida, se aplicáveis) depende da área total a ser pintada.

Como portas, portões, janelas, grades e armários possuem reentrâncias, fica impraticável levantar a área real a ser pintada. A regra usada é aplicar um multiplicador sobre a área frontal (vão-luz) do elemento a ser pintado, conforme mostra o quadro:


Formulários de levantamento

A maneira mais prática de calcular e documentar os quantitativos de chapisco, emboço, reboco, massa única, pintura de paredes, azulejo e rodapé é mediante a utilização de um formulário cujos dados de entrada são o perímetro e a altura de cada cômodo. Como estes serviços estão vinculados à área ou perímetro de paredes, o cálculo fica mais simples.

Cobertura

O levantamento de quantidades dos serviços de cobertura desdobra-se em madeiramento e telhamento, obviamente no caso de esses dois elementos estarem presentes.

Deve-se sempre tomar em consideração a inclinação de cada água do telhado, que normalmente é dada sob a forma percentual:

Como geralmente as dimensões do telhado são obtidas em projeção horizontal a partir da planta baixa, é necessário obter a área real do telhado, ou seja, ao longo da hipotenusa. Para isso, basta multiplicar a área em projeção horizontal pelo fator abaixo:



Critérios de medição e pagamento

Ao fazer o levantamento de quantidades, é importante que o orçamentista leia com atenção nas especificações e desenhos quais os critérios de medição e pagamento estabelecidos pelo cliente.

Um item que geralmente suscita dúvidas é aterro. Se as especificações técnicas da obra definirem que o preço do aterro deve incluir os custos de escavação da jazida, carga, transporte, descarga, espalhamento e compactação do material, o levantamento de quantidades deve ser feito considerando todas essas etapas. Um orçamentista incauto, que não lesse as especificações, calcularia o volume total de aterro e comporia um custo unitário apenas para o serviço de aterro, o que frustraria substancialmente o orçamento da obra. Para facilitar a composição do custo do aterro, o levantamento deveria ser realizado por partes: primeiro calcular-se-ia a quantidade de material a ser escavado de cada jazida, a quantidade a ser transportada (devido ao fenômeno do empolamento, é maior do que o volume escavado), a distância de cada jazida até o aterro, e o volume de aterro por tipo de material.

Perdas

Durante a orçamentação, é necessário que o construtor leve em consideração as perdas de material que inevitavelmente acontecem. Essas perdas têm diversas origens e só podem ser combatidas ou controladas até certo limite. Infelizmente, apesar de valores elevados de desperdício, é comum entre as empresas considerar normais esses índices, devido à cultura de que eles fazem parte do processo construtivo. Esse fato contribui para que a implantação de programas de melhoria da qualidade seja introduzida de forma muito lenta.

Há perdas que podem ser evitadas e outras que são inerentes à atividade. É quase impossível, por exemplo, pensar em uma armação estrutural com perda zero, por melhor que seja a equipe e o detalhamento do projeto. O que acontece é que, pelo fato de sempre haver um pedaço de vergalhão que não tem como ser aproveitado, a perda é inevitável.

Com relação a concreto, por exemplo, há desperdício de material por extravasão na concretagem, deformação das fôrmas, resíduo que fica na betoneira, excesso na fabricação (faz-se mais do que o estritamente necessário), material utilizado para moldagem de corpos-de-prova, etc. As maiores perdas de concreto, contudo, estão na diferença dimensional entre projeto e campo - uma laje projetada para 10 cm, que venha a ter dimensão final de 10,5 cm já representa 5% de perda, ainda que não se veja nenhum resíduo.

Diferenças dimensionais também são sempre verificadas em emboço, chapisco, contrapiso, etc. Já quando o material é madeira para fôrma, as perdas surgem principalmente das sobras nas atividades de corte e montagem.

No decorrer de uma obra, o controle de perdas deve ser realizado pela equipe construtora. São muitos os casos em que prejuízos acontecem, fruto de desperdício desmedido de material. Formulários de controle podem ser facilmente implementados.

Outras causas causadoras de desperdício são:

• Carga e descarga malfeitas - as operações de retirada dos materiais dos caminhões de entrega são fontes importantes de desperdício. A quebra de tijolos arremessados displicentemente sobre o solo ou sobre outros tijolos, e a descarga de areia e brita são exemplos cotidianos;

• Armazenamento impróprio - Sacos de cimento estocados sobre o chão, tijolos em pilhas disformes, montes compridos de areia e brita (quanto maior a área de contato da pilha com  o solo, maior é a perda, porque há uma incorporação das partículas ao solo subjacente e também contaminação do material), barras de aço em contato com umidade, barras de aço cortadas sem etiquetas de identificação, etc.;

• Manuseio e transporte impróprios - envolve a manipulação incorreta de objetos como tijolos, cimento e barrotes de madeira, como também o transporte inadequado de areia e concreto (em carrinhos de mão que derramam o material no caminho), caminhões supercarregados que espalham terra pelas vias de acesso, etc.

• Roubo - na construção civil o roubo é uma grande fonte de perdas. Excesso de locais de estoque, inexistência de controle de entrada e saída de materiais e ferramentas, almoxarifado devassado, grandes estoques, mão-de-obra pouco confiável e falta de vigilância são fatores que contribuem para que o roubo seja significativo. Auditorias periódicas no almoxarifado e controle de saída de material podem ajudar a coibir essa prática nociva.

Algumas perdas usualmente adotadas são:


Reaproveitamento

Os materiais permanentes, por ficarem incorporados ao produto final, são utilizados apenas uma vez. Os materiais não permanentes, no entanto, podem ser empregados mais de uma vez na obra. Assim, enquanto um tijolo é utilizado uma única vez, os painéis de madeira compensada, os pregos e os tirantes metálicos das fôrmas podem ser usados várias vezes, em várias fôrmas.

O reaproveitamento representa uma maneira de economizar insumos. Quanto mais reutilizado um mesmo material, menor será o custo da obra com aquele insumo. O reaproveitamento depende da qualidade da mão-de-obra, da qualidade do material, do cuidado no manuseio e, muitas das vezes, do projeto. A padronização é essencial para o aumento do reaproveitamento. Obras prediais em que os vãos da viga se repetem mostram que os painéis de fôrma podem ser reutilizados um número de vezes bem maior do que em prédios onde os vãos são muito diferentes e exigem sucessivos cortes dos painéis e a alteração nas fôrmas. Sa composição de custos, quando um material pode ser aproveitado n vezes, seu índice de utilização deve aparecer dividido por n. Por exemplo, se as folhas de compensado são usadas em média quatro vezes, este insumo deve aparecer com uma incidência de  apenas 0,25 m2 por m2 de fôrma de compensado .


8 comentários:

  1. Bom dia Walisson, gostaria de bater um papo com você sobre orçamentação, sou colaborador no Consórcio Pri Arcadis e gostariamos de contar com serviços de consultoria para este assunto, poderia me encaminhar um email com seu contato? o meu email é allan@priarcadis.com.br

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  2. Ola, boa tarde amigo! Estou querendo um livro que trate do assunto "levantamento de quantitativos" (conteudo do item programação, controle e fiscalização de obras) que estou estudando para um futuro concurso.. Muito obrigado amigo pela atenção

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  3. Prezados, qual espessura devo considerar na demolição de revestimentos?

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  4. Ola amigo, qual a fonte destas tabelas que foram inseridas no artigo acima ?
    Obrigado

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    1. https://issuu.com/otaciliofranciscoferreira/docs/como_preparar_or__amentos_de_obras_

      O conteúdo foi retido desse livro.

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  5. Boa noite colega, você poderia citar as fontes, com por exemplo as imagens e conceitos que retirou do Livro do Engº Aldo Dórea Mattos.
    Precisamos como engenheiros, fortalecer a bibliografia da nossa área de forma a poder citá-la com referência assim como os nobres colegas do direito fazem.

    No mais, muito bom seu blog.

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  6. Boa noite, qual seria a diferença entre a areia média e o arenoso no reboco? Desde já, agradeço.

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  7. Hello everyone, I'm Patricia Sherman in Oklahoma USA right now. I would like to share with you my experience of borrowing USD $185,000.00 to clear my bank draft and start a new business. It all started when I lost my house and I took my stuff because of the bank policy and I met some bills and some personal needs. So I became very desperate and started looking for funds in every way. Fortunately for me, a friend of mine, Linda told me about a credit company firm, I was intrigued by the fraud, but I was intrigued by my situation and had no choice but to get advice from my friend about this company. contacting them really doubted me because of my past experience with online lenders, did you know that little? '' Elegantloanfirm@hotmail.com This company has been very helpful to me and my colleague and today, thanks to this credit company, the proud owner of well-organized work and responsibilities, they smiled back at me. So if you really need to grow or start your own business, or if you really need to borrow money in any financial hardship, we recommend you find a financial development opportunity in your business today. {E-mail:} Elegantloanfirm@hotmail.com / whats-app number +393511617486.... online for credit not a victim of scam Thank you.

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