terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Capítulo 03 - Levantamento de quantidades

O início da orçamentação de uma obra requer o conhecimento dos diversos serviços que à compõe. Não basta saber quaís os serviços, é preciso saber também quanto de cada um deve ser feito.

A etapa de levantamento de quantidades (ou quantitativos) é uma das que intelectualmente mais  exigem do orçamentista, porque demanda leitura de projeto, cálculos de áreas e volumes, consulta a tabelas de engenharia, tabulação de números, etc.

A quantificação dos diversos materiais (ou levantamento de quantidades) de um determinado serviço deve ser feita com base em desenhos fornecidos pelo projetista, considerando-se as dimensões especificadas e suas características técnicas. Por exemplo, ao se medir a área de piso de um apartamento, deve-se separá-Ia por tipo de revestimento.

O processo de levantamento das quantidades de cada material deve sempre deixar uma memória de cálculo fácil de ser manipulada, a fim de que as contas possam ser conferidas por outra pessoa e que uma mudança de características ou dimensões do projeto não acarrete um segundo levantamento completo. Em vista disso, são normalmente usados formulários padronizados por cada empresa.

Dimensões

O levantamento de quantidades pode envolver elementos de naturezas diversas:

Eventualmente, o construtor pode fabricar seu próprio material. Um exemplo é uma obra de estrada em que o agregado provém da britagem e peneiramento de blocos rochosos escavados a fogo. Nesse caso, o preço do material (seja em metro cúbico ou em tonelada) é o preço do desmonte da rocha mais seu beneficiamento.

A seguir, apresentamos em detalhe o processo de levantamento de quantidades dos principais serviços que aparecem nas obras.

Demolição

O volume da estrutura a ser demolida "cresce" quando passa da construção ao entulho. Isso porque o arranjo da massa se desfaz e aumenta de volume. Esse "inchamento", bem semelhante a um empolamento, varia de material para material, e de acordo com o método de demolição. Para demolição de alvenaria de blocos, comum em obras e reformas, recomenda-se multiplicar o volume por 2. Em outras palavras, 1 m3 de alvenaria gera cerca de 2 m3 de entulho quando demolida.

Fôrma

Para a determinação do quantitativo de fôrmas, é importante que haja um projeto executivo, com o detalhamento das diversas peças.

Para fôrmas de madeira, normalmente encontram-se os seguintes componentes: chapa compensada (resinada, plastificada), sarrafo, prego, desmoldante. Só com um projeto de fôrmas é que o orçamentista pode estimar com segurança o quantitativo de todos esses elementos.


O exemplo a seguir ajuda a entender o levantamento das quantidades. Exemplo. Levantar os quantitativos de todos os materiais necessários ao serviço de fabricação, montagem e escoramento da  fôrma da estrutura abaixo:


 
Chapa compensada (dimensões 2,20 m x 1,10 m):

Quantidade de chapas na direção horizontal = 7,70 m / 2,20 m = 3,5 -> 4 un
Quantidade de chapas na direção vertical = 2,90 m / 1,10 m = 2,6 -> 3 un
Total = 3 x 4 x 2 lados = 24 un - 24 un x 2,20 m x 1,10 m = 58,1 m2


Sarrafo:

Vertical = 7,70 m / 0,45 m = 17,1 -> 18 un x 2,90 m x 2 lados = 104,4 m
Horizontal = 2,90 m / 0,60 m = 4,8 -> 5 un x 2 x 7,70 m x 2 lados = 154 m
Escora = 7,70 m / 1,35 m = 5,7
Piquete = 6 un x 1,0 m = 6 m
Total = 282,4 m


Tensor metálico:

A cada 2 cruzamentos na horizontal = 5 x 9 = 45 un

Prego:

Usar taxa de 0,25 kg/m2 _ 7,70 m x 2,90 m x 2 lados x 0,25 kg/m2 = 11,2 kg



Armação

O serviço de armação é estimado com base no peso (seria mais correto dizer massa) de aço requerido de acordo com o projeto estrutural, que em geral traz um quadro de ferragem ou lista de ferros de cada peça ou conjunto de peças, contendo os respectivos comprimentos, bitola e quantidade.

Agrupados por bitola, o comprimento pode ser convertido em peso por meio da seguinte correspondência:


Traços de argamassa e concreto

Alvenaria

O levantamento de quantidades de alvenaria destina-se a obter a área de parede a ser edificada, por tipo, assim como desmembrar essa área em termos dos insumos que entram na execução do serviço. Em outras palavras, primeiro determina-se a área de parede e, a partir dela, a quantidade de blocos e de argamassa de levante da alvenaria.

A área de alvenaria servirá de base para o levantamento de quantidades de outros serviços, tais como chapisco, emboço, reboco, pintura e azulejo.

Área de Alvenaria

O levantamento da área de alvenaria a ser levantada na obra parte da interpretação da planta baixa da edificação, associada às elevações mostradas nos cortes transversais. Pode-se calcular a área de alvenaria pela simples multiplicação comprimento x altura, ou perímetro x pé-direito.

A tabulação individual das paredes permite a checagem das contas e consultas posteriores, além de servir como registro (memória de cálculo).

Quando num pano de parede existirem aberturas - portas, janelas, basculantes, elementos vazados, etc. -, há algumas regras práticas para o levantamento da área de alvenaria:

• Área da abertura inferior a 2 m2 - despreza-se o vão da abertura, isto é, não se faz desconto algum na parede;

• Área da abertura igualou superior a 2 m2 - desconta-se da área total o que exceder a 2 m2.

Essa regra parte do pressuposto que a execução da alvenaria nas bordas da abertura demanda tempo com ajustes, arestamento, escoramento dos blocos, colocação de verga e contraverga, e que esse tempo seria equivalente ao que o pedreiro levaria para preencher o vão se a parede fosse inteira. A regra não é perfeita porque faz uma compensação de homem-hora por material, mas ainda assim é uma prática muito difundida entre os orçamentistas.

Exemplo. Calcular a área de alvenaria de:

(i) parede de 6,0 m x 2,8 m com janela de 1,5 m x 1,0 m;
(ii) parede de 6,0 m x 2,8 m com janela de 1,5 m x 2,0 m;
(iii) parede de 6,0 m x 2,8 m com 1 janela de 1,5 m x 1,0 mel janela de 1,5 m x 2,0 m.

i) Área = 6,0 m x 2,8 m - ° = 16,8 m2.
ii) Área = (6,0 m x 2,8 m) - (1,5 m x 2,0 m - 2 m2) = 16,8 m2 -1,0 m2 = 15,8 m2.
.iii) Área = (6,0 m x 2,8 m) - °- (1,5 m x 2,0 m - 2 m2) = 15,8 m2.


Quantidade de blocos e argamassa de levante

A quantidade de blocos e argamassa por metro quadrado de alvenaria depende da dimensão do bloco e da espessura das juntas horizontais e verticais.

Chamando de bj e b2 o comprimento e altura (em metro) do bloco no plano da parede, e de eh e e, a espessura (em metro) das juntas horizontais e verticais, respectivamente, a quantidade de blocos por m2 será obtida pela divisão de 1 mOpela área do bloco equivalente, que é o bloco acrescido da juntas.

Para o cômputo do volume de argamassa por metro quadrado de alvenaria, a maneira mais
prática é subtrair de 1 m2 a área frontal dos blocos existentes nessa área e multiplicar o resultado
pela espessura da parede (b):


A tabela abaixo mostra a quantidade teórica (nominal) de blocos e o volume de argamassa por metro quadrado de alvenaria para várias combinações de dimensão de blocos e espessura de junta.

Fica a cargo do leitor deduzir a fórmula do volume de argamassa quando a junta vertical é seca.


Exemplo. Calcular a quantidade de cada insumo necessário para a construção de 1 m2 de parede de alvenaria de blocos cerâmicos de 9 cm (largura) x 14 cm x 19 cm, com juntas horizontais e verticais de 1,5 cm de largura. A elevação da parede consome 0,90 h de pedreiro por m2 e igual incidência de servente.

Adotam-se os seguintes consumos para fabricação de 1 m3 de argamassa:
190 kg de cimento
0,632 m3 de arenoso
0,948 m3 de areia média
10 h de servente

Exemplo. No exemplo anterior, se houver no estoque da obra 12 sacos de cimento, 3 m3 de arenoso, 5 m3 de areia e 10.000 blocos, qual a área de alvenaria que pode ser feita sem compra adicional de material?

O cimento é suficiente para (12 sacos x 50 kg/saco) 12,79 kg/m2 = 215 m2
O arenoso é suficiente para 3 m3/ 0,0093 m3/m2 = 322 m2
A areia é suficiente para 5 m3 / 0,0139 m3/m2 = 359 m2
Os blocos são suficientes para 10.000 un 131,47 un/m2 = 317 m2

O insumo de terminante é, portanto, o cimento. Com os insumos em estoque, só se consegue construir 215 m2 de alvenaria.

Pintura

A quantidade de tinta (e também lixamento, selador e massa corrida, se aplicáveis) depende da área total a ser pintada.

Como portas, portões, janelas, grades e armários possuem reentrâncias, fica impraticável levantar a área real a ser pintada. A regra usada é aplicar um multiplicador sobre a área frontal (vão-luz) do elemento a ser pintado, conforme mostra o quadro:


Formulários de levantamento

A maneira mais prática de calcular e documentar os quantitativos de chapisco, emboço, reboco, massa única, pintura de paredes, azulejo e rodapé é mediante a utilização de um formulário cujos dados de entrada são o perímetro e a altura de cada cômodo. Como estes serviços estão vinculados à área ou perímetro de paredes, o cálculo fica mais simples.

Cobertura

O levantamento de quantidades dos serviços de cobertura desdobra-se em madeiramento e telhamento, obviamente no caso de esses dois elementos estarem presentes.

Deve-se sempre tomar em consideração a inclinação de cada água do telhado, que normalmente é dada sob a forma percentual:

Como geralmente as dimensões do telhado são obtidas em projeção horizontal a partir da planta baixa, é necessário obter a área real do telhado, ou seja, ao longo da hipotenusa. Para isso, basta multiplicar a área em projeção horizontal pelo fator abaixo:



Critérios de medição e pagamento

Ao fazer o levantamento de quantidades, é importante que o orçamentista leia com atenção nas especificações e desenhos quais os critérios de medição e pagamento estabelecidos pelo cliente.

Um item que geralmente suscita dúvidas é aterro. Se as especificações técnicas da obra definirem que o preço do aterro deve incluir os custos de escavação da jazida, carga, transporte, descarga, espalhamento e compactação do material, o levantamento de quantidades deve ser feito considerando todas essas etapas. Um orçamentista incauto, que não lesse as especificações, calcularia o volume total de aterro e comporia um custo unitário apenas para o serviço de aterro, o que frustraria substancialmente o orçamento da obra. Para facilitar a composição do custo do aterro, o levantamento deveria ser realizado por partes: primeiro calcular-se-ia a quantidade de material a ser escavado de cada jazida, a quantidade a ser transportada (devido ao fenômeno do empolamento, é maior do que o volume escavado), a distância de cada jazida até o aterro, e o volume de aterro por tipo de material.

Perdas

Durante a orçamentação, é necessário que o construtor leve em consideração as perdas de material que inevitavelmente acontecem. Essas perdas têm diversas origens e só podem ser combatidas ou controladas até certo limite. Infelizmente, apesar de valores elevados de desperdício, é comum entre as empresas considerar normais esses índices, devido à cultura de que eles fazem parte do processo construtivo. Esse fato contribui para que a implantação de programas de melhoria da qualidade seja introduzida de forma muito lenta.

Há perdas que podem ser evitadas e outras que são inerentes à atividade. É quase impossível, por exemplo, pensar em uma armação estrutural com perda zero, por melhor que seja a equipe e o detalhamento do projeto. O que acontece é que, pelo fato de sempre haver um pedaço de vergalhão que não tem como ser aproveitado, a perda é inevitável.

Com relação a concreto, por exemplo, há desperdício de material por extravasão na concretagem, deformação das fôrmas, resíduo que fica na betoneira, excesso na fabricação (faz-se mais do que o estritamente necessário), material utilizado para moldagem de corpos-de-prova, etc. As maiores perdas de concreto, contudo, estão na diferença dimensional entre projeto e campo - uma laje projetada para 10 cm, que venha a ter dimensão final de 10,5 cm já representa 5% de perda, ainda que não se veja nenhum resíduo.

Diferenças dimensionais também são sempre verificadas em emboço, chapisco, contrapiso, etc. Já quando o material é madeira para fôrma, as perdas surgem principalmente das sobras nas atividades de corte e montagem.

No decorrer de uma obra, o controle de perdas deve ser realizado pela equipe construtora. São muitos os casos em que prejuízos acontecem, fruto de desperdício desmedido de material. Formulários de controle podem ser facilmente implementados.

Outras causas causadoras de desperdício são:

• Carga e descarga malfeitas - as operações de retirada dos materiais dos caminhões de entrega são fontes importantes de desperdício. A quebra de tijolos arremessados displicentemente sobre o solo ou sobre outros tijolos, e a descarga de areia e brita são exemplos cotidianos;

• Armazenamento impróprio - Sacos de cimento estocados sobre o chão, tijolos em pilhas disformes, montes compridos de areia e brita (quanto maior a área de contato da pilha com  o solo, maior é a perda, porque há uma incorporação das partículas ao solo subjacente e também contaminação do material), barras de aço em contato com umidade, barras de aço cortadas sem etiquetas de identificação, etc.;

• Manuseio e transporte impróprios - envolve a manipulação incorreta de objetos como tijolos, cimento e barrotes de madeira, como também o transporte inadequado de areia e concreto (em carrinhos de mão que derramam o material no caminho), caminhões supercarregados que espalham terra pelas vias de acesso, etc.

• Roubo - na construção civil o roubo é uma grande fonte de perdas. Excesso de locais de estoque, inexistência de controle de entrada e saída de materiais e ferramentas, almoxarifado devassado, grandes estoques, mão-de-obra pouco confiável e falta de vigilância são fatores que contribuem para que o roubo seja significativo. Auditorias periódicas no almoxarifado e controle de saída de material podem ajudar a coibir essa prática nociva.

Algumas perdas usualmente adotadas são:


Reaproveitamento

Os materiais permanentes, por ficarem incorporados ao produto final, são utilizados apenas uma vez. Os materiais não permanentes, no entanto, podem ser empregados mais de uma vez na obra. Assim, enquanto um tijolo é utilizado uma única vez, os painéis de madeira compensada, os pregos e os tirantes metálicos das fôrmas podem ser usados várias vezes, em várias fôrmas.

O reaproveitamento representa uma maneira de economizar insumos. Quanto mais reutilizado um mesmo material, menor será o custo da obra com aquele insumo. O reaproveitamento depende da qualidade da mão-de-obra, da qualidade do material, do cuidado no manuseio e, muitas das vezes, do projeto. A padronização é essencial para o aumento do reaproveitamento. Obras prediais em que os vãos da viga se repetem mostram que os painéis de fôrma podem ser reutilizados um número de vezes bem maior do que em prédios onde os vãos são muito diferentes e exigem sucessivos cortes dos painéis e a alteração nas fôrmas. Sa composição de custos, quando um material pode ser aproveitado n vezes, seu índice de utilização deve aparecer dividido por n. Por exemplo, se as folhas de compensado são usadas em média quatro vezes, este insumo deve aparecer com uma incidência de  apenas 0,25 m2 por m2 de fôrma de compensado .


sábado, 17 de janeiro de 2015

Capítulo 02 - Graus do orçamento

Seja no setor público, seja na iniciativa privada, antes mesmo do desenvolvimento detalhado de um projeto executivo já há uma preocupação do gestor em ter uma noção do custo total do empreendimento.

É uma preocupação bastante compreensível, porque é a partir dessa avaliação prévia que ele irá optar pelo prosseguimento do projeto, ou aumentá-Io em seu escopo, ou cortar partes, ou reduzir o padrão de acabamento, ou até mesmo abortá-Io se chegar à conclusão de que não dispõe dos recursos requeridos para realizar a obra. A estimativa preliminar do custo da obra é o primeiro ingrediente de qualquer estudo de viabilidade.

A depender do tipo de obra, a estimativa consegue ser mais ou menor precisa. Quando se trata de uma construção convencional, com um projeto relativamente tradicional, com os serviços bem conhecidos pela construtora, com registros de custos de obras similares e sem grandes indefinições e interferências, a estimativa pode produzir números bem próximos da realidade.

É o caso de edifícios residenciais, casas populares, adutoras de água, linhas de distribuição de energia elétrica, etc.

Quando o projeto é pouco convencional, como uma indústria sem precedentes ou uma ponte de design inovador a ser feita com uma tecnologia construtiva poucas vezes aplicada, a estimativa de custos naturalmente carregará em seu bojo uma imprecisão maior.

Nas empresas, a estimativa de custos só serve realmente para dar a ordem de grandeza do empreendimento. Conforme explicado no capítulo anterior, o orçamento propriamente dito requer o levantamento das quantidades e a composição de custos para cada serviço. O orçamento detalhado (ou sintético) gera um produto final muito mais completo e confiável do que a simples estimativa de custos.

Grau de detalhe do orçamento

A depender do grau de detalhamento de um orçamento, ele pode ser classificado como:

» Estimativa de custo - avaliação expedita com base em custos históricos e comparação com projetos similares. Dá uma idéia aproximada da ordem de grandeza do custo do empreendimento;

» Orçamento preliminar - mais detalhado do que a estimativa de custos pressupõe o levantamento de quantidades e requer a pesquisa de preços dos principais insumos e serviços. Seu grau de incerteza é menor;

» Orçamento analítico ou detalhado - elaborado com composição de custos e extensa pesquisa de preços dos insumos. Procura chegar a um valor bem próximo do custo "real", com uma reduzida margem de incerteza.

Estimativa de custos


A estimativa de custos é uma avaliação expedita feita com base em custos históricos e comparação com projetos similares. Dá uma idéia da ordem de grandeza do custo do empreendimento.

Em geral, a estimativa de custos é feita a partir de indicadores genéricos, números consagrados que servem para uma primeira abordagem da faixa de custo da obra. A tradição representa um aspecto relevante na estimativa.

No caso de obras de edificações, um indicador bastante usado é o custo do metro quadrado construído. Inúmeras são as fontes de referência desse parâmetro, sendo o Custo Unitário Básico (CUB) o mais utilizado. Cada construtora, no entanto, pode ir gerando seus próprios indicadores com o passar do tempo.

Outros indicadores genéricos são:

• Custo por metro linear de rede de drenagem ou esgoto;
• Custo por hectare de urbanização;
• Custo por megawatt de energia instalado (para usinas hidrelétricas);
• Custo do quilômetro de estrada;
• Custo do quilômetro de linha de transmissão de alta tensão.

Importante: A estimativa de custos não elimina a necessidade de se fazer o orçamento analítico.

CUB

A Lei 4.591/64 atribuiu à Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) a tarefa de padronizar critérios e normas para cálculo de custos unitários de construção, execução de orçamentos e avaliação global de obra. A lei obriga os Sindicatos da Indústria da Construção estaduais a calcular e divulgar mensalmente os custos unitários da construção na sua base territorial, referentes a diversos padrões de construção.

A norma criada pela ABNT foi a NB-140, posteriormente substituída pela NBR 12.721. Ela define os critérios de coleta, cálculo, insumos representativos e os seus pesos de acordo com os padrões de construção (baixo, normal e alto), que levam em conta as condições de acabamento, a qualidade do material empregado e os equipamentos existentes.

O Custo Unitário Básico da Construção Civil (CUB) representa o custo da construção, por m2, de cada um dos padrões de imóvel estabelecidos.

O CUB de cada projeto-padrão é calculado aplicando-se aos coeficientes constantes dos quadros da NBR 12.721 (lotes básicos) os preços unitários dos insumos (material e mão-de-obra) ali relacionados. Esses preços são resultantes de pesquisa mensal feita pelos Sindicatos (batizados
de SINDUSCON na maioria dos Estados) junto a expressivo número de construtoras, que mensalmente informam os valores praticados. Quanto à mão-de-obra, é aplicado um percentual correspondente aos encargos trabalhistas e previdenciários, decorrentes da legislação própria e da Convenção Coletiva de Trabalho.

Dessa forma, o CUB é o resultado da mediana de cada insumo representativo coletado junto às construtoras, multiplicada pelo peso que lhe é atribuído de acordo com o padrão calculado. Na tabela, os custos estão divididos de acordo com a unidade autônoma (tipo de construção e número de quartos), número de pavimentos e padrão de acabamento.

Por se tratar de um parâmetro médio, no valor do CUB não estão considerados os custos referentes às especificidades da construção, como o valor do terreno, fundações especiais, paisagismo, elevadores, instalações e equipamentos diversos, obras complementares, impostos, taxas, honorários, etc.

É fácil estimar o custo de construção de um imóvel a partir do CUB. Basta buscar na tabela o ,valor do CUB correspondente ao padrão e multiplicá-Io pela área de construção.

Exemplo: Seja um edifício residencial de oito pavimentos de três quartos, de 300 m2 por pavimento, de padrão normal, em Salvador. Calcular o custo de construção utilizando o CUB.

Área construída total = 2.400 m2
CUB Salvador junho/2006 (H8-3N) = R$ 704,37/m2
Custo total = 2.400 m2 x R$ 704,37/m2 = R$ 1.690.488 - R$ 1.700.000,00

Índice CUB

Há que se atentar para a diferença entre CUB e Índice CUBo O CUB é um valor em reais. Ele representa o valor, por m2, da construção de uma habitação de acordo com os padrões estabelecidos pela NBR 12.721. Como o cálculo é feito com uma periodicidade mensal, é possível criar uma série histórica da evolução dos valores a partir das suas variações mensais.

OÍndice CUB é a variação acumulada do CUB entre o mês anterior e o atual. É um percentual. Ele representa quanto o custo de construção variou de um mês para o outro. É um parâmetro importante para comparação entre a alta dos preços da construção civil e outros índices mais genéricos divulgados na imprensa - IGP-M, INPC, INCC, ICC, FIPE, etc.


Custo Unitário PINI de Edificações:

A PINI desenvolveu uma metodologia própria de cálculo do custo do metro quadrado construído. Trata-se do Custo Unitário PINI de Edificações. Ele serve como uma referência paralela ao CUBo Por ter um projeto padrão diferente daquele do CUB, naturalmente os dois índices levam a valores distintos, porém não muito distantes entre si. Cabe ao orçamentista enquadrar sua obra nos padrões adotados e verificar qual o índice que mais se adapta ao caso.


Outros índices

Existem outros parâmetros de referência para custos de construção, em sua maioria concementes a um setor específico.

Um exemplo é o Custo de Urbanização - Avaliação de Glebas, calculado para um módulo de 1.000 m2 de área útil. Esse custo é atualizado pela PINI mensalmente:


Orçamento preliminar
O orçamento preliminar está um degrau acima da estimativa de custos, sendo um pouco mais detalhado. Ele pressupõe o levantamento expedito de algumas quantidades e a atribuição do custo de alguns serviços. Seu grau de incerteza é mais baixo do que o da estimativa de custos.

No orçamento preliminar, trabalha-se com uma quantidade maior de indicadores, que representam um aprimoramento da estimativa inicial. Os indicadores servem para gerar pacotes de trabalho menores, de maior facilidade de orçamentação e análise de sensibilidade de preços.

Em obras similares, a construtora pode ir gerando seus próprios indicadores. Embora os prédios tenham projetos arquitetônicos distintos e acabamentos diferentes, nota-se que os indicadores não flutuam muito .

À seguir são mostrados alguns indicadores úteis para levantamentos expeditos de construções prediais. Embora cada prédio tenha seu projeto particular, a relação entre os quantitativos dos principais serviços obedece a um comportamento geral.

Volume de concreto

o volume de concreto de um pavimento engloba pilares, vigas, lajes e escadas. Define-se espessura média como a espessura que o volume de concreto do pavimento atingiria se fosse distribuído regularmente pela área do pavimento.

Importante: a espessura média refere-se apenas à superestrutura do prédio: não inclui concreto de fundações (blocos, tubulões), quadras esportivas, etc.

Peso de armação

Embora lajes, pilares e vigas tenham solicitações distintas e que sejam armados com diferentes densidades de aço por metro cúbico de concreto, verifica-se que em construções prediais a taxa de aço média fica numa faixa.


Área de fôrma

Embora a quantidade de fôrma para moldagem de um pilar seja bem mais representativa do que para uma laje, verifica-se que a utilização média de fôrma cai sempre numa determinada faixa.



Estimativa de custos por etapa de obra

A estimativa de custos por etapa de obra é uma decomposição da estimativa inicial, levando em consideração o percentual que cada etapa da obra representa no custo total.

A tabela de percentuais é fruto de estudos de obras similares e vem geralmente em faixas de estudo de obras similares. A decomposição em etapas é útil por apresentar um valor estimado para cada  etapa da obra, além da importância relativa de cada uma delas.

A tabela a seguir dá uma noção da representatividade de cada etapa no custo total de uma obra de edificações:

Ao se trabalhar com a estimativa de custos por etapa de obra, deve-se ter em conta de que os percentuais são apenas referenciais. No caso de se ter uma obra atípica - implantada em aclive pronunciado, ou em terreno muito fraturado, ou com grandes balanços na estrutura, ou com sofisticada pele de vidro na fachada -, os percentuais da tabela certamente não serão muito exatos. O ideal continua sendo sempre elaborar o orçamento analítico da obra.

Uma utilidade do orçamento por etapa é que o orçamentista pode rapidamente avaliar se a cotação de um subempreiteiro está dentro ou fora da faixa esperada.

Exemplo. No mesmo exemplo do edifício residencial de 2.400 m2 de área construída, o valor estimado do custo de construção por etapa de obra seria:


Orçamento analítico
O orçamento analítico constitui a maneira mais detalhada e precisa de se prever o custo da obra. Ele é efetuado a partir de composições de custos e cuidadosa pesquisa de preços dos insumos. Procura chegar a um valor bem próximo do custo "real".

O orçamento analítico vale-se de uma composição de custos unitários para cada serviço da obra, levando em consideração quanto de mão-de-obra, material e equipamento é gasto em sua execução. Além do custo dos serviços (custo direto), são computados também os custos de manutenção do canteiro de obras, equipes técnica, administrativa e de suporte da obra, taxas e emolumentos, etc. (custo indireto), chegando a um valor orçado preciso e coerente.

Uma explicação completa acerca do orçamento analítico é encontrada nos capítulos seguintes
deste arquivo.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Capítulo 01 - Orçamentação

Independentemente de localização, recursos, prazo, cliente e tipo de projeto, uma obra é eminentemente uma atividade econômica e, como tal, o aspecto custo reveste-se de especial importância.

A preocupação com custos começa cedo, ainda antes do início da obra, na fase de orçamentação, quando é feita a determinação dos custos prováveis de execução da obra. O primeiro passo de quem se dispõe a realizar um projeto é estimar quanto ele irá custar.
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Orçamento e orçamentação:

Orçamento não se confunde com orçamentação. Aquele é o produto; este, o processo de determinação.

A estimativa dos custos - e o conseqüente estabelecimento do preço de venda - é basicamente um exercício de previsão. Muitos são os itens que influenciam e contribuem para o custo de um empreendimento. Atécnica orçamentária envolve a identificação, descrição, quantificação, análise e valorização de uma grande série de itens, requerendo, portanto, muita atenção e habilidade técnica. Como o orçamento é preparado antes da efetiva construção do produto, muito estudo deve ser feito para que não existam nem lacunas na composição do custo, nem considerações descabidas.

Um dos fatores primordiais para um resultado lucrativo e o sucesso do construtor é uma orçamentação eficiente. Quando o orçamento é malfeito, fatalmente ocorrem imperfeições e possíveis frustrações de custo e prazo. Aliás, geralmente erra-se para menos, mas errar para mais tampouco é bom.

No caso de empresas que participam de concorrências públicas ou privadas, a orçamentação é uma peça-chave. O fato de haver várias empresas na disputa pelo contrato impõe ao construtor o dever de garantir que todos os custos sejam contemplados no preço final, e que ainda assim seja alcançável uma margem de lucro adequada.

Por ser a base da fixação do preço do projeto, a orçamentação toma-se uma das principais áreas no negócio da construção. Um dos requisitos básicos para um bom orçamentista é o conhecimento detalhado do serviço. A interpretação aprofundada dos desenhos, planos e especificações da obra lhe permite estabelecer a melhor maneira de atacar a obra e realizar cada tarefa, assim como identificar a dificuldade de cada serviço e conseqüentemente seus custos de execução. Ainda assim, alguns parâmetros não podem ser determinados com exatidão, como é o caso de chuvas, condições do solo, disponibilidade de materiais, flutuações na produtividade dos operários e paralisações.

Orçar não é um mero exercício de futurologia ou jogo de adivinhação. Um trabalho bem executado, com critérios técnicos bem estabelecidos, utilização de informações confiáveis e bom julgamento do orçamentista, pode gerar orçamentos precisos, embora não exatos, porque o verdadeiro custo de um empreendimento é virtualmente impossível de se fixar de antemão. O que o orçamento realmente envolve é uma estimativa de custos em função da qual o construtor irá atribuir seu preço de venda - este, sim, bem estabelecido.

Em geral, um orçamento é determinado somando-se os custos diretos - mão-de-obra de operários, material, equipamento - e os custos indiretos - equipes de supervisão e apoio, despesas gerais do canteiro de obras, taxas, etc. - e por fim adicionando-se impostos e lucro para se chegar ao preço de venda. Para participar de uma concorrência, o preço proposto pelo construtor não deve ser nem tão baixo a ponto de não permitir lucro, nem tão alto a ponto de não ser competitivo na disputa com os demais proponentes.

Muito provavelmente duas empresas chegarão a orçamentos distintos, porque distintos são os processos teóricos utilizados, a metodologia de execução proposta para a obra, as produtividades adotadas para as equipes de campo e os preços coletados, dentre outros fatores. O que é importante destacar é que o orçamento deve refletir as premissas da construtora, constituindo-se numa meta a ser buscada pela empresa.

Orçamento nas empresas:

Em grandes organizações existem setores dedicados exclusivamente a preparar orçamentos para concorrências. Informações de obras passadas são utilizadas como subsídio para novas composições de custos, que são elaboradas com programas específicos de computador. Em empresas menores, em geral o próprio construtor faz a estimativa, muitas vezes sem grandes detalhes, baseando-se tão-somente na experiência adquirida pela execução repetida de serviços similares. O que se nota claramente é que, quanto maior o conhecimento prático de quem orça, maior a probabilidade de o orçamento estar apurado e menor a chance de que frustrações futuras ocorram na obra.

A atividade de orçamentação não é exclusiva das empresas de construção. Também escritórios de arquitetura estimam o custo de execução de seus projetos, as empresas projetistas e os consultores orçam seus serviços técnicos, as fábricas calculam o custo final de seus produtos, os subempreiteiros estimam o custo de suas empreitadas e o governo faz orçamentos dos projetos e obras a executar (antes de licitá-Ios).

Nas construtoras, é comum vermos algumas distorções. Há empresas que participam de um número excessivamente grande de concorrências, cujas datas de entrega da proposta são muito próximas, e com isso o setor de orçamento fica abarrotado. Os profissionais ficam sem tempo de analisar o projeto mais detidamente, propor mais de uma solução técnica e fazer simulações. Eles então se transformam em meros "preenchedores de planilha de preços". Já vimos empresas participarem de licitações públicas sem terem sequer aberto o pacote de plantas - o orçamentista apenas atentou para os requisitos formais requeridos pelo órgão licitante e a data de entrega dos envelopes, preenchendo em seguida a planilha com preços ditos históricos. Mais de uma vez já ocorreu de o construtor arbitrar "por sentimento" (é o tal feeling) os preços dos serviços e, depois de assinado o contrato da obra, dar-se conta de que a estrutura de concreto tinha pé-direito alto (exigindo muito mais escoramento) ou de que o local era de difícil acesso, etc.

Outra distorção está na experiência dos orçamentistas. Em várias empresas, o setor de orçamento é o destino natural dos engenheiros e técnicos recém-formados. Os mais antigos e experientes estão sempre na produção, ou seja, no campo, e terminam inconscientemente por desprezar o trabalho dos orçamentistas por considerarem-no destituído de natureza prática. Assim, escritório e campo passam a ser compartimentos estanques: o orçamentista não conhece a prática e não tem retroalimentação por parte dos engenheiros de produção; estes, por sua vez, não acreditam no que foi orçado e nem sequer abrem os relatórios e planilhas para obter referências de produtividades, equipes e custos. Cria-se um círculo vicioso. O ideal é que haja um espírito de corpo e que escritório e campo se completem. O orçamentista precisa visitar as obras e receber do pessoal de campo as produtividades reais, os percentuais de perda dos principais insumos e comentários acerca dos parâmetros de orçamento .

Uma prática que tem se revelado frutífera em algumas empresas é designar-se o responsável pela obra ainda na fase de licitação, a fim de que ele participe da orçamentação e não venha a considerar o produto final uma mera caixa-preta. Assim aos poucos vai se desfazendo a desprezível máxima de que "quando uma obra dá dinheiro o mérito é do engenheiro de produção, mas quando perde dinheiro é porque o orçamentista errou".

Atributos do orçamento:

Uma composição de custos não pode ser vista como uma fria coleção de números que pode ser retirada de um livro ou de um manual. Ao contrário, ainda que o processo de elaboração dos custos seja regido por conceitos fundamentais de orçamentação, ele deve ser capaz de retratar a realidade do projeto. Por se tratar de um estudo feito a priori, há sempre uma margem de incerteza embutida no orçamento. Muitas são as premissas de cálculo adotadas e a defasagem de tempo entre o momento da orçamentação e o da realização da tarefa pode ser bastante dilatado.

Os principais atributos do orçamento são aproximação, especificidade e temporalidade.

Aproximação:

Por basear-se em previsões, todo orçamento é aproximado. Por mais que todas as variáveis sejam ponderadas, há sempre uma estimativa associada. O orçamento não tem que ser exato, porém precíso. Ao orçar uma obra, o orçamentista não pretende acertar o valor em cheio, mas não se desviar muito do valor que efetivamente irá custar. O orçamento presta-se a dar uma idéia mais ou menos próxima daquele valor. Quanto mais apurada e criteriosa for a orçamentação, menor será sua margem de erro.
 
Quando alguém se depara com um orçamento de R$ 690.415,58, o valor apresentado com o rigor dos centavos não representa uma "precisão de duas casas decimais". Ele é, sim, decorrente de uma série de contas definidas a partir de premissas de cálculo que seguem uma lógica de engenharia.

A aproximação de um orçamento está embutida em diversos itens:

Mão-de-obra:

Produtividade das equipes - quando, por exemplo, se admite que um pedreiro gasta 1,0 h para fazer 1,0 m2 de alvenaria de bloco cerâmico, será por meio dessa premissa que o total de mão-de-obra de alvenaria será calculado. Aprodutividade afeta diretamente a composição de custo;

Encargos sociais e trabalhistas - o percentual de encargos que incidem sobre a mão-deobra leva em conta premissas tais como incidência de acidentes do trabalho, rotatividade para cálculo de aviso prévio, faltas justificadas e outros elementos arbitrados a partir de parâmetros estatísticos e históricos.
 
• Material:

Preço dos insumos - não se pode afirmar com certeza que os preços cotados durante a orçamentação serão os praticados durante a obra; 

Impostos - os impostos embutidos no preço de aquisição dos insumos podem variar durante a obra. Além disso, a base de cálculo de impostos como o ISS é estimada para fins de
orçamento;

Perda - 
o percentual de perda e desperdício é arbitrado para cada insumo que entra no orçamento. Assim, por exemplo, admitir que há uma perda de 8% no bloco cerâmico é uma consideração que pode se mostrar arrojada, realista ou conservadora;

Reaproveitamento - consiste na quantidade de vezes que um insumo pode ser reutilizado (Ex.: chapa compensada).

Equipamento:

»Custo horário - o custo horário depende de parâmetros de cálculo como vida útil, custo de manutenção e operação, etc.;

»Produtividade - quando se assume, por exemplo, que uma escavadeira escava 50 m3 de solo por hora, há uma margem de incerteza incluída, pois a produtividade é função da disponibilidade mecânica (percentual de tempo em que o equipamento está em condições mecânicas de ser utilizado) e do coeficiente de utilização (percentual do tempo disponível em que o equipamento efetivamente trabalha), além do empolamento do material escavado (aumento de volume entre os estados natural e solto).

• Custos indiretos:

» Pessoal - salários e encargos sociais das equipes técnica, administrativa e de apoio; 
»Despesas gerais - contas de água, luz, telefone, aluguel de equipamentos gerais (grua, andaimes), seguros, fretes, etc.

• Imprevistos - os orçamentistas precisam incluir no orçamento alguma verba para os custos que não podem ser orçados com certeza ou explicitamente: retrabalho por causa de chuvas, refazimento de serviço por má qualidade, danos causados por fenômenos naturais ou por terceiros, danos causados pela construtora a terceiros, etc.

Especificidade:
o orçamento para a construção de uma casa em uma cidade é diferente do orçamento de uma casa igual em outra cidade. Não se pode falar em orçamento padronizado ou generalizado. Por mais que um orçamentista se baseie em algum trabalho anterior, é sempre necessário adaptar à obra em questão.

Todo orçamento está intrinsecamente ligado a:

• Empresa - o orçamento traz implícita a política da empresa na quantidade de cargos de supervisão previstos (engenheiros, mestres, encarregados), no padrão do canteiro de obras, na quantidade de veículos disponibilizados para a equipe, no grau de terceirização de serviços, na taxa de administração central cobrada da obra para cobrir parte dos custos do escritório central da empresa, na necessidade de empréstimos para fazer a obra, etc.;

• Condições locais - clima, relevo, vegetação, profundidade do lençol freático, tipo de solo, condições das estradas locais, facilidade de acesso às fontes de matérias-primas, qualidade da mão-de-obra, oferta de equipamento, qualidade dos subempreiteiros da região, diferentes alíquotas de impostos, entre outros fatores.

Temporalidade:

Um orçamento realizado tempos atrás já não é válido hoje. Se, por exemplo, alguém orçou uma obra e ganhou a licitação, mas a obra só vier a ser mobilizada quatro anos depois, é lógico perceber que alguns ajustes precisam ser feitos. Isso se deve a:

• Flutuação no custo dos insumos ao longo do tempo;
• Criação ou alteração de impostos e encargos sociais e trabalhistas, tanto em espécie quanto em alíquota;
• Evolução dos métodos construtivos - surgimento de técnicas, materiais e equipamentos mais adequados;
• Diferentes cenários financeiros e gerenciais - terceirização, delegação de tarefas, condições de capital de giro, necessidade de empréstimo, etc.

Enfoques do orçamento:

O orçamento tem enfoques distintos quando analisado sob o prisma do proprietário da obra ou pelo construtor.

Ponto de vista do proprietário:

O orçamento é a descrição de todos os serviços, devidamente quantificados e multiplicados pelos respectivos preços unitários, cuja somatória define o preço total, ou seja, seu desembolso. Cotação de insumos, percentual de perdas e produtividade de equipes, por exemplo, não são uma preocupação imediata do proprietário. Ele está mais preocupado com o montante do empreendimento e como esse montante será desembolsado ao longo do tempo.

Do ponto de vista do construtor: 

O orçamento é a descrição de todos os insumos, devidamente quantificados e multiplicados pelos respectivos custos unitários, acrescidos das despesas indiretas - cuja somatória define o custo total, ou seja, o desembolso do construtor -, mais o lucro e os impostos, gerando então o preço total, que é quanto irá receber. Para o construtor, o orçamento encerra em seu bojo todas as premissas que passam a ser metas de desempenho durante a obra. O preço de venda dos serviços é fixo, o custo é variável e precisa ser monitorado em função dessas metas.

Etapas da orçamentação:

Esquematicamente, a orçamentação engloba três grandes etapas de trabalho: estudo das condicionantes (condições de contorno), composição de custos e determinação do preço.

Primeiro estudam-se os documentos disponíveis, realiza-se visita de campo, e fazem-se consultas ao cliente. Em seguida, monta-se o custo, que é proveniente das definições técnicas, do plano de ataque da obra, dos quantitativos dos serviços, das produtividades e da cotação de preços de insumos. Por fim, soma-se o custo indireto, aplicam-se os impostos e aplica-se a margem de lucratividade desejada, obtendo-se assim o preço de venda da obra.

Estudo das condicionantes (condições de contorno)

Todo orçamento baseia-se num projeto, seja ele básico ou executivo. É o projeto que norteia o orçamentista. A partir dele serão identificados os serviços constantes da obra com suas respectivas quantidades, o grau de interferência entre eles, a dificuldade relativa de realização das tarefas, etc.
 
Essa fase de estudo das condicionantes, em que se tomam conhecidas as condições de contorno da obra, engloba os seguintes passos:

1. Leitura e interpretação do projeto e especificações técnicas:

As obras geralmente contêm uma série de plantas preparadas pelos diversos projetistas. São projetos arquitetônicos, de cálculo estrutural, de instalações (elétricas, hidrossanitárias, gás, incêndio), de paisagismo, de impermeabilização, etc.

Os projetos são compostos de:

• Plantas baixas - de arquitetura, de fôrma, de caminhamento de tubulação, etc.;
• Cortes;
• Vistas - fachadas, perfis, etc.;
• Perspectivas - isométricas, cavaleiras, etc.;
• Notas esclarecedoras;
• Detalhes - em escala que permita melhor observação;
• Diagramas - unifilares, de Brückner, croquis, etc.;
• Gráficos - perfis de sondagem, curvas cota-volume;
• Tabelas - de elementos topográficos, curvas granulométricas, etc.;
• Quadros - de ferragem, de cabos, etc.

A depender da complexidade da obra, essas plantas baixas, cortes, vistas, perspectivas, notas, detalhes, diagramas, tabelas e quadros, que em essência definem o produto final a ser construido, demandam maior ou menor análise. O entendimento do projeto depende muito da experiência do orçamentista e de sua familiaridade com o tipo de obra.

As especificações técnicas são documentos de texto que trazem informações de natureza mais qualitativa do que quantitativa. Elas contêm, entre outras coisas:

• Descrição qualitativa dos materiais a serem empregados - pisos, tintas, esquadrias, etc.;
• Padrões de acabamento;
• Tolerâncias dimensionais dos elementos estruturais e tubulações;
• Critério de aceitação de materiais;
• Tipo e quantidade de ensaios a serem feitos;
• Resistência do concreto;
• Grau de compactação exigido para aterro;
• Granulometria dos agregados;
• Interferências com tubulações enterradas.

2. Leitura e interpretação do edital

O edital é o documento que rege a licitação, no caso de a obra ser objeto de uma concorrência.

Ele traz as "regras" do projeto. É o principal documento da fase de licitação.

Algumas das informações contidas no edital e que são indispensáveis para a elaboração do orçamento:

• Prazo da obra;
• Datas-marco contratuais;
• Penalidade por atraso rio cumprimento do prazo ou bônus por antecipação;
• Critérios de medição, pagamento e reajustamento;
• Regime de preços (unitário, global, por administração);
• Limitação de horários de trabalho;
• Critérios de participação na licitação (capital social da empresa, índice de endividamento, etc.);
• Habilitação técnica requerida com relação à empresa e responsável técnico;
• Documentação requerida;
• Seguros exigidos;
• Facilidades disponibilizadas pelo contratante (instalações de água, energia, etc.).

O Capítulo 14 traz mais detalhes sobre o edital do ponto de vista licitatório.

3. Visita técnica

É sempre recomendável proceder-se a uma visita técnica ao local da obra. A visita serve para tirar dúvidas, levantar dados importantes para o orçamento, tirar fotos, avaliar o estado das vias de acesso e verificar a disponibilidade de materiais, equipamento e mão-de-obra na região (muito importante quando a obra não é feita em grandes centros urbanos).

Quando da visita técnica, é sempre interessante conversar com algum construtor que esteja fazendo obra na vizinhança, de preferência para o mesmo cliente.

Alguns órgãos contratantes instituem a obrigatoriedade da visita de campo. O construtor deve colher o visto de algum preposto do órgão, atestando que visitou o local da obra. O levantamento de dados da visita pode ser facilitado com a utilização de formulários. Isso evita que os profissionais tenham preocupações diferentes na hora de registrar o que viram no local. As empresas podem ter formulários para obras urbanas, rurais, de edificação, de terraplenagem, etc.

Composição de custos

4. Identificação dos serviços

O custo total de uma obra é fruto do custo orçado para cada um dos serviços integrantes da obra. Portanto, a origem da quantificação está na identificação dos serviços. Um orçamento, por mais cuidadoso que seja feito, estará longe de ser completo se excluir algum serviço requerido pela obra.
 
5. Levantamento de quantitativos
Cada serviço identificado precisa ser quantificado. O levantamento de quantitativos é uma das principais tarefas do orçamentista, isso no caso de o projetista não os fornecer detalhadamente. 

Um pequeno erro de conta pode gerar um erro de enormes proporções e conseqüências nefastas.

No caso de licitações em que o órgão contratante fornece a planliha de quantidades, é importante que o orçamentista obtenha seus próprios quantitativos. A identificação de discrepância nas quantidades pode ser de grande vaha quando do desbalanceamento dos preços, como será visto mais adiante.

O levantamento de quantitativos inclui cálculos baseados em dimensões precisas fornecidas no projeto (volume de concreto armado, área de telhado, área de pintura, etc.) ou em alguma estimativa (volume de escavação em solo, quando são dados perfis de sondagem, por exemplo).

O capítulo 3 aborda em detalhe o levantamento de quantitativos.

6. Discriminação dos custos diretos

Os custos diretos são aqueles diretamente associados aos serviços de campo. Representam o custo orçado dos serviços levantados.

A unidade básica é a composição de custos, os quais podem ser unitários, ou seja, referendados a uma unidade de serviço (quando ele é mensurável- ex.: kg de armação, m3 de concreto) ou dado como verba (quando o serviço não pode ser traduzido em uma unidade fisicamente mensurável- ex.: paisagismo, sinahzação).

Cada composição de custos unitários contém os insumos do serviço com seus respectivos índices (quantidade de cada insumo requerida para a realização de uma unidade do serviço) e valor (provenientes da cotação de preços e da aplicação dos encargos sobre a hora-base do trabalhador). (A rigor, até esse momento os preços de mercado ainda não são conhecidos, pois a cotação vem a seguir).

A empresa pode usar composições de custos próprias ou obtê-Ias em publicações especializadas, como a TCPO (Tabelas de Composições de Preços para Orçamentos), da Editora PINI, que é a publicação mais completa e difundida no mercado.

O capítulo 4 aborda em detalhe o processo das composições de custos.

7. Discriminação dos custos indiretos
Os custos indiretos são aqueles que não estão diretamente associados aos serviços de campo em si, mas que são requeridos para que tais serviços possam ser feitos.

Nessa fase são dimensionadas as equipes técnicas (engenheiros, mestres, encarregados), de apoio (almoxarue, apontador) e de suporte (secretária, vigia), e identificadas as despesas gerais da obra (contas, materiais de escritório e limpeza, etc.), mobilização e desmobilização do canteiro, taxas e emolumentos, entre outras despesas.

O capítulo 10 aborda em detalhe os custos indiretos.

8. Cotação de preços
Consiste na coleta de preços de mercado para os diversos insumos da obra, tanto os que aparecem no custo direto, quanto no custo indireto. É importante que esta etapa seja feita em seguida à seleção das composições de custos, para que o orçamentista possa ter uma relação completa de todos os insumos do orçamento.

O capítulo 6 aborda em detalhe a cotação de insumos.

9. Definição de encargos sociais e trabalhistas

Consiste na definição do percentual de encargos sociais e trabalhistas a ser aplicado à mão-deobra. Envolve os diversos impostos que incidem sobre a hora trabalhada e os benefícios a que têm direito os trabalhadores e que são pagos pelo empregador. 

O capítulo 5 aborda em detalhe os encargos sociais e trabalhistas.

Fechamento do orçamento

10. Definição da lucratividade

Baseado nas condições intrínsecas e extrínsecas da obra, o construtor define a lucratividade que deseja obter na obra em questão. Ele deve levar em conta fatores como concorrência, risco do empreendimento, necessidade de conquistar aquela obra, etc.

O capítulo 11 aborda em detalhe a questão da lucratividade.

11. Cálculo do BDI

Tendo em vista que no caso de planilhas de concorrências as propostas são baseadas nos serviços nelas listados, o construtor precisa diluir sobre esses itens todo o custo que não aparece explicitado.

Em outras palavras, sobre o custo direto é necessário aplicar um fator que represente o custo indireto e o lucro, além dos impostos incidentes. Este fator de majoração é o BDI - Benefícios e Despesas Indiretas, expresso em percentual.

O capítulo 12 aborda em detalhe a questão do BDI.
 
12. Desbalanceamento da planilha

Em tese, o BDI deve ser aplicado uniformemente sobre todos os serviços. Entretanto, como forma de melhorar a situação econômica do contrato, o construtor pode realizar a distribuição não uniforme do preço total nos itens da planilha.

O desbalanceamento possibilita obter vantagem da seguinte forma:

• Aumentando o preço de serviços que ocorrem cedo na obra e diminuindo o preço dos serviços que ocorrem mais perto do fim;
• Aumentando o preço dos serviços cujo quantitativo tende a crescer e diminuindo o preço daqueles cujo quantitativo tende a ser menor do que o da planilha. O desbalanceamento é uma "jogada de preços" na planilha, sem alteração do preço de venda.

O capítulo 13 aborda em detalhe o desbalanceamento da planilha de preços.

Utilidades da orçamentação:

O propósito do orçamento não se resume à definição do custo da obra. Ele tem uma abrangência
maior, servindo de subsídio para outras aplicações, tais como:

• Levantamento dos materiais e serviços - a descrição e a quantificação dos materiais e serviços ajudam o construtor a planejar as compras, identificar fornecedores, estudar formas de pagamento e analisar metodologias executivas;

• Obtenção de índices para acompanhamento - é com base nos índices de utilização de cada insumo (mão-de-obra, equipamento, material) que o construtor poderá realizar uma comparação entre o que orçou e o que está efetivamente acontecendo na obra. Os índices servem também como metas de desempenho para as equipes de campo;

• Dimensionamento de equipes - a quantidade de homem-hora requerida para cada serviço serve para a determinação da equipe. A partir do índice, determina-se o número de trabalhadores para uma dada duração do serviço;

• Capacidade de revisão de valores e índices - o orçamento pode ser facilmente recalculado a partir de novos preços de insumos e índices de produção. Para isso, basta que os campos de valores sejam alterados, pois todo o restante é produto de operações aritméticas simples;

• Realização de simulações - cenários alternativos de orçamento com diferentes metodologias construtivas, produtividades, jornadas de trabalho, lucratividade, etc.;

• Geração de cronogramas físico e financeiro - o cronograma físico retrata a evolução dos serviços ao longo do tempo. O cronograma financeiro quantifica mensalmente os custos e receitas desses mesmos serviços - é a distribuição temporal dos valores;

• Análise da viabilidade econômico-financeira - o balanço entre os custos e as receitas mensais fornece uma previsão da situação financeira da obra ao longo dos meses.