segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Capítulo 04 - Composição de custos

Dá-se o nome de composição de custos ao processo de estabelecimento dos custos incorridos para a execução de um serviço ou atividade, individualizado por insumo e de acordo com certos requisitos pré-estabelecidos. A composição lista todos os insumos que entram na execução do serviço, com suas respectivas quantidades, e seus custos unitários e totais.

As categorias de custo envolvidas em um serviço são tipicamente:

Mão de Obra
Material
Equipamento

A determinação da contribuição relativa de cada uma dessas categorias é a essência do processo de estabelecimento de qualquer composição de custos. Há ainda custos de subcontratos e os indiretos. Os custos indiretos são despesas gerais não diretamente ligadas ao serviço propriamente dito, mas de ocorrência inevitável.

Em geral, uma composição de custos pode ser feita antes da execução do serviço ou após este haver sido parcialmente ou totalmente concluído. O propósito da composição é diferente nos" dois casos.

Quando feita antes do serviço, a composição é dita estimativa ou orçamento ou ainda' conceitual, e serve para que o construtor tenha uma noção do custo a ser incorrido por ele no futuro. Nessa etapa, a composição de custos é a base utilizada pelas empresas para a definição de preços a serem atribuídos em licitações e propostas.

Se feita enquanto o serviço é executado ou após sua conclusão, a composição de custos presta-se à aferição da estimativa previamente feita. A composição passa então a ser um instrumento de controle de custos, permitindo ao construtor identificar possíveis fontes de erro na composição do orçamento original, e gerando uma história para a empresa, útil para estimativas futuras.

Composição de custos unitários:

O custo unitário é o custo correspondente a uma unidade de serviço, como por exemplo:
• custo de 1 m3 de escavação manual;
• custo de 1 m2 de alvenaria de tijolo cerâmico de 9 x 14 x 19 cm;
• custo de 1 m de meio-fio assentado;
• custo de 1 m2 de pintura com tinta à base de óleo;
• custo de 1 m3 de carga, transporte, lançamento e espalhamento de solo;
• custo de 1 kg de armação estrutural;
• custo de 1 un de poste instalado;
• custo de 1 kWh de esgotamento de vala.

A composição de custos unitários é uma tabela que apresenta todos os insumos que entram diretamente na execução de uma unidade do serviço, com seus respectivos custos unitários e totais.

Ela é constituída de cinco colunas:




Exemplo. Para a composição de custos unitários abaixo:

(i) interpretar a composição;
(ü) calcular as quantidades e custos de cada insumo para uma obra cujo quantitativo seja de 80 m² de concreto estrutural;
(iii) dimensionar a equipe para concretar os 80 m3 em um prazo de 40 horas.

Serviço: preparo, transporte, lançamento e adensamento de concreto estrutural fck = 200 kgf/cm²
Unidade: m³


(i) Interpretação da composição:
• Para o preparo de 1m3 de concreto são requeridos:
- 306,00 kg de cimento (= 6,12 sacos);
- 0,901 m3 de areia;
- 0,209 m3 de brita 1;
- 0,627 m3 de brita 2;
- 8 horas de servente;
- 1hora de pedreiro;
- 0,35 hora de betoneira

• O custo orçado para o preparo, transporte, lançamento e adensamento de 1 m3 de concreto
estrutural é de R$ 226,37;

• O insumo que mais incide no custo do serviço é o cimento (R$ 1l0,16/m3), que representa
48,7% do custo do concreto;

• O segundo insumo que mais incide no custo do serviço é o servente (R$ 33,60/m3), que
representa 14,8% do custo dj) concreto;

•ocusto de material é de R$ 185,12 (=R$ 110,16+31,54+10,87+32,60) porm3 de concreto
estrutural, correspondendo a 81,8% do custo total;

• O custo de mão-de-obra é de R$ 40,50 (=R$ 33,60+6,90) por m3 de concreto estrutural,
rorrespondendo a 17,9% do custo total;

• O custo de equipamento é de R$ 0,70 por m3 de concreto estrutural, correspondendo a
0,3% do custo total;

• Há uma proporcíonalidade de 8 serventes para 1 pedreiro (pelo índice nota-se que a
incidência de horas de servente é 8 vezes maior do que a de pedreiro, daí a razão 8:1);

(ii) Para uma obra de 80 m3 de concreto estrutural:

Dimensionamento da equipe para prazo de 40 horas:

Servente: 640 homens-hora /40 horas = 16 serventes
Pedreiro: 80 homens-hora / 40 horas = 2 pedreiros

Interpretação de custos:

Um exemplo ilustrativo é a composição de custos unitários da armação:

Serviço: armação estrutural aço CA-50, envolvendo aquisição das barras, manuseio, corte,
dobra, transporte e instalação.


Unidade: kg


Interpretação:

• O custo de preparação de 1 kg de armação estrutural, envolvendo aquisição das barras, manuseio, corte, dobra, transporte e instalação nas fôrmas é de R$ 4,45/kg;

• Há dois insumos de mão-de-obra (armador e ajudante) e dois insumos de material (aço CA-50 e arame recozido nº 18);

• O insumo que mais impacta no custo do serviço é o aço CA-50, pois seu custo total no serviço é de R$ 3,19/kg, representando 71,7% do serviço armação estrutural;

• A composição indica uma relação numérica de 1 ajudante para 1 armador (1:1), pois os índices desses insumos são iguais. Caso os índices fossem 0,10 h para o armador e 0,05h para o ajudante, a incidência de ajudante seria metade da do armador, indicando uma razão de 1 ajudante para cada 2 armadores (esta composição seria R$ 0,21/kg mais barata);

• Foi considerada perda de 10% no aço, porque seu índice é 1,10, significando que é necessário adquirir 1,10 kg de aço CA-50 para se ter 1,0 kg de armação conforme requerido pelo projeto;

É preferível o construtor ter 5% de desconto no aço do que o arame todo de graça. Isso porque o desconto de 5% no aço representa um ganho de R$ 0,16/kg, contra R$ 0,15/kg arame;

• Cada armador deve preparar 10,0 kg por hora de trabalho. Ora, se o índice representa 0,10 h de  armador para cada quilo de armação, em 1 h teremos 1/(0,10 hlkg) = 10,0 kg/h que é a produtividade do armador;

• Em uma semana de 44 horas, uma equipe de 5 armadores consegue armar 44 h x armadores/ 0,10 h/kg = 2.200 kg de armação;

• O maior valor que deveria ser pago a um subempreiteiro de armação (material fornecido pelo construtor) seria R$ 0,69+0,42 = R$ 1,lllkg (incluídos os encargos sociais), pois o tal subempreiteiro estaria encarregado apenas de fornecer a mão-de-obra do serviço. Fechar o serviço com o subempreiteiro por um valor superior a R$ l,ll/kg iria acarretar uma diminuição no lucro da obra.

Outro exemplo eloqüente é a composição de custos unitários de fôrmas:

Serviço: fôrma de chapa compensada para estruturas em geral, resinada, e= 12 mm, 3 utilizações.
Unidade: m2.


Interpretação:

• A composição de custos unitários de fôrma refere-se a 1 m2 de área desenvolvida na planta de fôrmas, ou seja, superfície da fôrma em contato com o concreto;

• O custo de preparação de 1 m2 de fôrma de chapa compensada para estruturas em geral, resinada, e=!2 mm, 3 utilizações, é de R$ 31,85;

• O índice 0,43 h/m2 da chapa compensada significa uma perda de 30% na chapa. Isso porque, sendo 3 as utilizações da chapa, o total de chapa por m2 de fôrma é dado por 1 m2/ 3 + 30% = 0,43 m2;

• A composição indica uma relação numérica de 1 ajudante para 1 carpinteiro (1:1), pois os índices desses insumos são iguais;

• Cada carpinteiro gasta 1,20 h/m2, o que representa uma produtividade de 1/1,20 = 0,83 m2/h.


Montagem de uma composição de custos:

O exemplo a seguir ilustra o processo de montagem de uma composição de custos unitários.

Exemplo. Montar as composições de custos unitários da estrutura de concreto armado do capítulo anterior, supondo que a obra tem 30 muros iguais ao mostrado.

Fôrma:
Área de fôrma de cada muro = 2 x 7,70 x 2,90 = 44,66 m2

Então, na composição de custos unitários, os índices serão as quantidades levantadas divididas
por 44,66, para que estejam referidos a 1 m2 de fôrma.

As colunas % Perdas e Quantidade de Utilizações ilustram os cálculos passo a passo:

• chapa compensada: 58,1/44,66 x 1,20/5 = 0,312 m2

• sarrafo: 282,4/44,66 x 1,30/3 = 2,74 m




Índice e produtividade:

Define-se produtividade como a taxa de produção de uma pessoa ou equipe ou equipamento isto é, a quantidade de unidades de trabalho produzida em um intervalo de tempo especificado normalmente hora. A produtividade indica a eficiência em transformar energia (e tempo) e produto. Quanto maior a produtividade, mais unidades do produto são feitas num determina, espaço de tempo. É óbvio notar que, quanto mais produtivo um recurso, menor quantidade tempo será gasta na realização da tarefa.


Os índices podem ser vistos como o inverso da produtividade. No caso da armação, com o índice do armador é 0,10 h!kg, a produtividade é de 10,0 kg!h. Se o índice fosse 0,15 h/kg, produtividade seria 6,67 kg/h.

O conhecimento e o domínio dos índices são de grande importância porque:

• Revelam a produtividade da mão-de-obra e equipamento, e o consumo dos materiais adotados no orçamento;
• Fornecem um parâmetro para comparação do orçado com o realizado;
• Representam o limite além do qual a atividade se toma deficitária;
• Permitem a detecção de desvios;
• Ajudam o gerente a estabelecer metas de desempenho para as equipes.

A quantidade de homens-hora de cada categoria de trabalhador de um serviço é função produtividade, ou seja, da rapidez com que o trabalho é executado. Pela própria definição produtividade, quanto mais unidades de trabalho o indivíduo produz na unidade de tempo menor a quantidade de homens-hora requerida para conclusão da atividade.

Existe uma relação direta entre duração e quantidade de recursos. Se uma obra dispõe muitos homens para determinada atividade, sua duração é logicamente menor do que se um número inferior de homens estivesse disponível para aquela tarefa.

Exemplo. Dimensionar equipe para montar 12 toneladas de estrutura metálica, com premissa de que o índice é de 150 hlt e que cada operário trabalha 10 horas por dia:
Total de horas requeridas = 12 t x 150 h/t = 1.800 h


Enquanto o consumo de material necessário para um serviço pode ser matematicamente levantado a partir dos desenhos, pois tem dimensões exatas, o estabelecimento da produtividade da mão-de-obra é um processo empírico e depende de uma série de fatores, tais como experiência, grau de conhecimento do serviço, supervisão, motivação, etc. Por tudo isso, a produtividade deve estar sendo continuamente aferida no campo, e informada ao setor de orçamento. Consultar índices de livros pode ser uma boa prática, mas a homogeneização da produtividade entre as obras está longe de ser uma realidade.

O gerenciamento da produção de uma obra tem relação intrínseca com os índices adota dos no orçamento. A meta de todo gerente é melhorar os índices (ou seja, diminuí-Ios) a fim de maximizar o lucro de cada serviço.

Se no exemplo da armação estrutural visto acima cada armador estiver produzindo em média 370 kg de armação por semana de 44 horas, a obra estará tendo prejuízo nesse serviço, pois a produtividade estaria em 370/44 = 8,4 kg!h, que equivale a um índice de 0,12 h/kg, que é maior do que o índice orçado. Se o gerente pudesse perceber tal desvio a tempo, ele poderia pesquisar as fontes de ineficiência e tomar medidas corretivas.

As produtividades devem levar em conta as interrupções e oscilações que ocorrem com a produção do trabalhador: deslocamentos entre uma frente de serviço e outra, paradas para beber água, necessidades fisiológicas, "cera", falta de material, espera por equipamentos, etc.

O tempo improdutivo depende do indivíduo, da supervisão, das condições climáticas (em temperaturas muito altas há uma tendência maior a interrupções), da complexidade do serviço, da urgência, etc. Aprodutividade, portanto, deve ser colhida no campo abrangendo um período de tempo relativamente longo, a fim de que sejam realistas, ou seja, reflitam com precisão a taxa média de rapidez com que o serviço é feito.

Informações sobre produtividade de obras similares são realmente úteis como ponto de partida. Com a finalidade de criar uma história de produtividades, as obras geralmente criam formulários de






Apropriação de índices:

Por mais abrangente que seja o conjunto de composições de custos unitários que um livro possa conter, ele parte de observações de obras diversas, de construtoras diversas e realizadas sob condições particulares.

As construtoras precisam então desenvolver suas próprias composições de custos, que reflitam
produtividade de campo de suas equipes e, enfim, que melhor representem as caractensticas de produção da empresa.

Ao processo de obtenção dos índices reais de produção dá-se o nome de apropriação. É pela apropriação que o construtor passa a conhecer seus índices, a realidade de sua empresa.

O passo inicial da apropriação é a observação. É a partir dos dados coletados no campo que se
construirá composição real. Observar é assistir e registrar.

Exemplo. Uma construtora apurou os dados abaixo referentes ao serviço levantamento de alvenaria de bloco. Calcular a produtividade e o índice (RUP) do serviço e comparar com os índices de 1,00 h/m2 adotados no orçamento (para pedreiro e servente).